terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Mesinha de cabeceira #1


de 1 fevereiro 2010


Hoje trago: «Mal Me Quero» de Ana Martins


JV – Vamos fazer a ligação à Ana Martins para dar início a este novo momento de literatura que hoje começa.
AM – Bom dia!
JV – Bem-vinda à Rádio Marinhais! Gostava de te perguntar porque chamaste à rubrica Mesinha de Cabeceira.
AM – Recordei um momento de uma conversa com um amigo meu, também autor, que me dizia que já tinha o meu livro e o tinha posto na mesinha de cabeceira, que lhe ia pegar assim que conseguisse, e como isso me deixou momentaneamente feliz. Esse meu amigo é o autor de uma das novelas que estão a passar neste momento e sei-o demasiado ocupado nesta altura a escrever, mas o meu livro, aguardava o seu momento no local mais mágico, onde guardamos o que vamos efectivamente ler e mais… ao colocar na mesinha de cabeceira, já o estamos a fazer com um carinho absolutamente diferente do desprendimento de guardar um livro novo na estante. Daí ter chamado assim esta rubrica. O logótipo que escolhi, uma mesa-de-cabeceira com uma imensa pilha de livros colocada numa praia, representa o que um livro pode fazer por cada leitor – fazê-lo viajar… sonhar mais além do horizonte.
JV – E conta-nos o que te vamos ouvir nesta rubrica todas as semanas à terça-feira?
AM – Justamente o que vai saindo de novo no mercado. É a minha visão sobre o que vale a pena ir parar à mesa-de-cabeceira dos nossos ouvintes.
JV – Falemos então do livro que também tenho na minha mesa-de-cabeceira. O teu mais recente romance MAL ME QUERO. É um tema quente onde abordas a violência doméstica.
AM – É verdade. Eu fiz muita pesquisa para este livro, e à medida que aprofundava, deparei-me com realidades que desconhecia ou que se calhar acabamos por não reparar num primeiro olhar. Chamei-lhe “os números calados”. Porque para além da violência mais comum de nos chama a atenção (o Manel que bate na Maria), há a violência na 3ª idade, que me chocou imenso, a violência na deficiência e a violência no namoro, como começam cedo demais.
JV – Pelo que já li, Ana, conseguiste escrever sobre várias situações…
AM – Sim, no Mal Me Quero pincelei várias realidades, não só a violência física do Manel e da Maria (porque não os exclui), mas escrevi sobre a violência verbal e a psicológica, que conseguem ser tão perversas quanto a física.
JV – Mas são muitas as tuas personagens! Percebo que era necessário para contares as várias histórias…
AM – A forma como estruturei o livro parece um livro de contos, mas é um romance. Apenas compartimentei cada realidade. Cada uma fica separada pelo facto de serem contos, aparentemente independentes, mas trata-se de um recurso literário para demonstrar que, tal como na vida real, o que acontece debaixo das telhas de um amigo, de um vizinho, fica lá, nós não sabemos, nunca sabemos e acontece mesmo ali ao nosso lado! O leitor vai sendo surpreendido pela forma como todas as personagens se cruzam sem nunca suspeitarem do que se passa na vida dos outros. E leva a aperceberem-se que como nunca pensamos que quem está perto de nós pode efectivamente precisar de ajuda sem nunca a pedir.
JV – Lá está, os números calados de que falavas à pouco…
AM – O medo, a vergonha do que vão dizer, paralisa a vítima. Fica prisioneira de uma teia de mentiras, que protege o agressor e faz com que ganhe terreno e continue. Só há uma forma de combater, João Victor, que é ter a coragem de falar. Denunciar a situação faz uma revolução na relação de poder entre agressor-vítima. E todos ficam a ganhar.
JV – Muito bem, e é um livro que consegues contar toda essa intensidade, mas também usas muito o sentido de humor… é para contrabalançar? Para equilibrar?
AM – Sim claro, além disso… faz parte da minha forma de ver a vida, transparece nos meus livros, na forma que construo as personagens ou nas soluções que lhes apresento. Os meus leitores dizem-me muitas vezes isso. Que não podem ler os meus livros em público porque são acometidos de gargalhadas ou porque choram no comboio ou no metro e enfim… são momentos de que deveriam ser privados. Mas de facto, de cada vez que me contam uma situação caricata, é um enorme elogio que cada um de meus leitores me está a fazer. Mexer com as emoções de uma pessoa é difícil e estão a dizer-me, sem o saberem, que o consegui. E eu fico grata. Muito grata.
JV – Essa é outra curiosa faceta tua enquanto escritora. O teu contacto com os leitores…
AM – É sim, prezo muito quem me lê e as opiniões que me dão. Se os leitores pensam que só eu lhes proporciono momentos perfeitos, enganam-se. Dão-me tanto em troca, mimam-me tanto e nem o sabem!!! Ou sabem, porque faço questão de lhes agradecer.
JV – E para garantir essa continuidade, vamos-te ter cá para a semana! Ana, muito obrigada. Mesinha de Cabeceira, hoje com destaque para o livro Mal Me Quero. E diz-nos, onde os nossos ouvintes podem encontrar o teu livro?
AM – No meu site. anamartinscom.blogspot.com – basta entrar em contacto comigo – uma mensagem , um email, até uma carta – os livros são enviados via CTT à cobrança, praticamente de um dia para o outro. Preço do livro + portes. Os meus contactos estão lá.
JV – Obrigada Ana e espero que esta rubrica de literatura que hoje começa se prolongue por muito tempo!
AM – Obrigada e até terça!




Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...